
Educação Climática e Justiça: por que não podemos separar gênero, juventude e clima
Sempre que falamos sobre mudanças climáticas, costumamos imaginar gráficos, emissões de CO₂ e políticas globais. Mas, na prática, a crise climática não afeta todas as pessoas da mesma forma. Mulheres e meninas, especialmente em países em desenvolvimento, enfrentam impactos muito mais severos. Por isso, não é possível pensar em educação climática sem falar também de gênero e justiça social.
Durante minha atuação no Girl Programme Fellowship do Malala Fund, tive a oportunidade de trabalhar com jovens mulheres de diferentes partes do mundo, explorando justamente essa interseção entre clima e gênero. Em um dos módulos que desenvolvemos, discutimos como os efeitos da crise climática recaem de forma desproporcional sobre meninas: em situações de seca, por exemplo, são elas que passam horas coletando água; em desastres ambientais, são mais expostas à violência de gênero; em contextos de crise econômica, acabam sendo forçadas a abandonar a escola ou a casar precocemente. Ou seja, as mudanças climáticas não são neutras — elas ampliam desigualdades já existentes.
A partir desse olhar, a educação ganha um papel transformador. Ao mesmo tempo em que meninas sofrem mais com os impactos da crise, elas também são agentes fundamentais de mudança quando têm acesso à educação e ocupam espaços de decisão. Na prática, isso significa que investir em educação de meninas não é apenas uma questão de direitos humanos, mas também uma das estratégias mais eficazes de adaptação e mitigação climática. Estudos já demonstram que comunidades onde mulheres têm maior participação em processos de decisão tendem a adotar medidas ambientais mais justas e sustentáveis.
No Girl Programme, buscamos traduzir esses debates em vivências concretas. Ao lado de outras educadoras, desenhei e implementei formações que iam além da teoria. Criamos espaços de troca onde as participantes puderam conectar ciência, políticas globais e suas realidades locais. Discutimos desde o Acordo de Paris até os impactos cotidianos da escassez de água ou da perda de safras, sempre perguntando: como isso afeta meninas e mulheres nas nossas comunidades? Essa perspectiva trouxe para o centro algo que muitas vezes é silenciado: a crise climática não é apenas ambiental, mas também social, cultural e de gênero.
O que aprendi com essas experiências é que a Educação Climática precisa ser também uma Educação para a Justiça. Precisamos preparar jovens para entender as raízes estruturais das desigualdades, dar nome às violências invisíveis e criar ferramentas para transformar essa realidade. Só assim conseguimos formar lideranças que não apenas combatam as emissões de carbono, mas também enfrentem as injustiças históricas que sustentam o sistema climático desigual em que vivemos.
Unir gênero, juventude e clima não é uma opção, é uma necessidade. Quando fortalecemos a educação de meninas e jovens mulheres, abrimos caminho para uma resposta climática mais justa, inclusiva e transformadora.